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sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

ENTREVISTA EXCLUSIVA COM STEVE BINDER - PRODUTOR DO COMEBACK SPECIAL 68 (PART 4 / 4 )

PARTE 4



Steve – Sim, no improviso da sessão acústicas, vcs se lembram dele dizendo “tem algo errado em meu lábio”? Ele estava sempre se saindo com algum comentário engraçado, quando a gente menos esperava por isso, quando você passava uma hora com ele, bem, vocês conhecem a expressão “rachar de rir”? Elvis me fez rachar de rir muitas vezes com seu senso de humor!

Del – é bom ouvir isso, é muito bom ouvir isso. Angel Presley, presidente de fã clube em São Carlos, norte de São Paulo, muito popular no mundo Elvis Brasil, quer saber mais sobre as sessões musicais improvisadas por Elvis e sua equipe, que levaram à sequência do show sentado no especial de 1968. Como elas realmente aconteceram?

Steve – Quando começamos o especial, estávamos ensaiando em meus escritórios, na Sunset Boulevard in Hollywood, e quando fomos para o estúdio, eu acho que Elvis estava se divertindo tanto com todos nós nos ensaios, que ele me disse que queria morar nos estúdios da NBC, não queria mais para casa a noite, enquanto estávamos produzindo o show, ele me disse que não queria mais dirigir toda noite para Bel Air, onde morava, ou Beverly Hills, e então voltar para Burbank para fazer o especial, então eu lhe perguntei o que ele achava de conseguirmos uma cama para colocar no grande camarim que havíamos lhe dado ao lado do palco, e ele achou a ideia fantástica, então nos fizemos, nós trouxemos uma cama enorme para o camarim, e trouxemos um piano, o camarim tinha duas salas, e quanto todos saiamos do estúdio, as 9 horas da noite, todos aqueles que ficavam ali e que tinham acesso ao seu camarim, Elvis pegava a guitarra e começava a tocar, e todos que ouvia música se uniam a ele, n´0os não tínhamos bateria ali, então eles batiam no piano com as mãos. E aos poucos se tornou uma coisa que, ao observar, eu disse: eu tenho que filmar isso, é fantástico! Isso é como estar olhando pelo buraco da fechadura e vendo o que você não deveria ver, era fantástico! Então eu fui ao Coronel Parker e disse “estou trazendo câmeras aqui amanhã”, e ele respondeu “somente sobre meu cadáver, porque você não vai trazer!” Então nós discutimos por uma semana enquanto filmávamos o show, e toda noite, eu estava perdendo esse grande material acústico da jam session, sem roteiro, apenas no improviso, conversando sobre os bons tempos, improvisando canções que costumavam cantar somente por diversão, e finalmente, eu enchi tanto o Coronel, que finalmente ele me disse: “ok, você não pode filmá-lo no camarim, mas eu deixo você recriar isso no palco” e foi assim quem aconteceu.            

Eliane - Basicamente, foi ideia do Coronel o show sentado? (risos)

Steve – Não, ele não queria, ele tinha medo, eu insisti! E quando tudo finalmente estava pronto, ele me chamou na sala de maquiagem, nos tínhamos o público em volta do palco, as garotas sentadas nos degraus, como se fosse um ring, e eu fui chamado na sala de maquiagem, Elvis estava lá com o maquiador, e quando me viu entrar ele disse ao maquiador que saísse por um instante e ele disse, “Steve, eu mudei de ideia”, como assim, vc mudou de ideia? E ele disse, “eu não posso sair!” eu perguntei “como assim, não pode sair?” “Eu não me lembro o que fiz no camarim, eu não lembro as canções, não lembro o que disse, minha mente está vazia!” Então eu peguei um papel de 8 x 10 e me sentei ali e escrevi tudo que eu podia lembrar das canções, Tiger Man, Going Up, Going Down, eu escrevi pequenas coisas que conseguia me lembrar do que eles conversaram, como aquela vez em que a policia filmou o show e ele só podia mexer o dedidnho ao invés do corpo...

Eliane – É esse o papel que ele pega no inicio do show?

Steve - Sim, o que ele tira e começa a ler... não toque suas mãos com o corpo, ou o corpo  com as mãos! Foi assim que aconteceu...

Del – ele fez piadas com o trabalho...

Steve – Foi a isso que me referi antes... nessa sessão, ele esqueceu que haviam câmeras ali. Ele estava com pessoas que ele amava, Scotty and DJ, seu baterista e seu guitarrista original, e ele se redescobriu, ei, isso é divertido... e para alguém que nem queria sair, eu quase precisei de um gancho para tirá-lo dali! (risos)

Del – Você gravou dois shows, 6h e 8h, correto?

Steve – Exatamente

Del – E você fez apenas uma roupa de couro, por quê? (risos) já que eram dois shows?         

Steve - (risos) Porque eu era jovem e estúpido. Eu não percebi que a roupa seria tão quente, e ele iria suar daquele jeito, era couro, afinal! Depois daquela vez eu sempre fiz duas, às vezes três!

Eliane – Ele estava estonteante naquela roupa, simplesmente fantástico!

Steve – Ele gostou mais do que todo mundo, ele adorou!

Del – Você acha que ele no segundo show ele estava mais relaxado?

Steve – sim, estava mais relaxado. Também, no primeiro show, não colocamos um tapete no chão, não percebemos que quando os rapazes batiam seus pés ali isso estava fazendo barulho no áudio e também que ele queria uma faixa para a guitarra, de forma que ele pudesse se levantar e cantar e nós não antecipamos isso no show das 6h, e eu acho que foi o Scotty, não me lembro, um dos rapazes do grupo que faleceu há ou ano atrás, mais ou menos, ele pegou o pedestal do microfone e o segurou de forma que Elvis pudesse cantar no microfone, mesmo que ele não tivesse a alça da guitarra, então nós consertamos esses detalhes entre os dois shows, mas eu acho que ambos foram fantásticos, e quando eu editei tudo, eu pude usar o melhor dos dois shows e coloca-lo juntos.

Eliane – Isso me leva a uma pergunta de nosso amigo Sergio Biston, que é um grande fã do sul do Brasil, e também dirige um fórum chamado Elvis Collectors. Ele disse que frequentemente, a perspectiva e a importância histórica de um projeto como esse aparecem depois de anos, às vezes décadas. Enquanto você estava trabalhando com Elvis, você pensou que esse especial teria tanta relevância histórica, seria tão importante, tantos anos depois?

Steve - Absolutamente não (risos). Se alguém me dissesse que eu estaria conversando com você hoje, em 2015, sobre algo que eu fiz há tantos anos atrás... E no que é considerado horário nobre da TV nos EUA, quando o grosso da população está assistindo TV, foi a primeira vez que eu artista fez o show sozinho, sem nenhum convidado. Era muito importante nos EUA antes dele, que ao ter um artista fazendo um show na TV vc tivesse outros artistas se apresentando com ele, porque pensavam que teria maior classificação, mais pessoas assistindo, etc. O Especial de 68 de Elvis Presley é, até hoje, um dos shows mais importantes e mais assistidos na história da TV Americana.

Eliane – Este show ainda é exibido na TV Americana nos dias de hoje?

Steve – Sim! O show é tão importante quanto, ou ainda mais importante do que foi nos dias de hoje, porque é parte da história da TV Americana, quando as pessoas se referem à TV e o que a tornou tão importante, Elvis é sempre mencionado como uma das razões, aquela noite em Dezembro quando eles exibiram o show.

Eliane – Há mais uma pergunta do Sr. Biston: Depois do show e do novo impulso que este deu à carreira de Elvis, ele mencionou a você em algum momento o que pensava dos resultados do Especial e suas consequências?

Steve – O que eu achei interessante é que, antes mesmo de ser exibido, eu mostrei a ele porque eu tinha muitas horas de material para editar, e quando eu editei o primeiro intervalo, o show que seria exibido tinha apenas 46 minutos, com todas as interrupções de comerciais, uma hora de show, com todas as pausas da estação, etc, os shows de uma hora ficam apenas com cerca de 45 minutos. E eu queria que o show original exibido nos EUA tivesse muito do material acústico, e no show de uma hora não haveria tempo, entre todos os números produzidos, e nós tinhamos um elenco de cantores, dançarinos, etc., e eu achava que a mágica real do show era Elvis, Scotty, DJ e mais alguns dos rapazes tocando na sessão acústica nos dois shows que fizemos em 68. Então eu editei um show de 90 minutos e a NBC e os patrocinadores se recusaram a comprar os outros 45 minutos, então a primeira vez que foi exibido, foi apenas a versão curta. Quando Elvis morreu, a NBC fez um tributo a Elvis, com Na Margret apresentando um show de 3 horas, de forma que colocaram Elvis do Especial de 68 e do Aloha, juntos, apresentados por Ann Margret. O que eles não entenderam é que, quando mandaram o assistente ao porão, para abrir o cofre e encontrar o especial de 68 de Elvis Presley... ele não trabalhava para a NBC, ele nem sabia do que estavam falando, e ao abrir o cofre, tudo que ele viu foi a minha versão de 90 minutos, Graças a Deus foi só o que ele viu, porque foi a primeira vez que eles viram o que eu tinha editado e eles exibiram aquela cena de 90 minutos com a cena do bordel, foi isso que exibiram, pela primeira vez nos EUA. Foi por um golpe de sorte que eles exibiram toda a minha edição, na segunda vez em que o show foi exibido nos EUA. Desde então, o espólio de Elvis Presley – e eu nem quero entrar no assunto – mas eles compraram todos os vídeos de Elvis da RCA, de quem quer que tivesse imagens, e eles compraram os negativos, e todo o material que eu editei, , e mesmo não tendo o material das jam sessions do camarim,  mas não há, eu asseguro, nada mais deixado, eles exibiram o show em mil diferentes maneiras, foi pirateado, mas para mim, a mágica acontece no show original de 90 minutos.

Del – Steve, você tem uma canção favorita do Elvis? Você pode cantar uma canção do Elvis?

Steve – Você não quer me ouvir cantar, mas eu adoro fazer isso em pensamentos. Duas canções, na verdade. Uma é If I Can Dream, eu me arrepiei quando eu a ouvi tocada ao piano para Elvis pela primeira vez, em seu camarim. E novamente o coronel estava nos ouvindo, Billy Goldenberg tocou o piano e Earl Brown, que escreve, cantou para Elvis, e ele pediu que repetissem três ou quatro vezes em seguida, e no mesmo instante em que o coronel dizia alto no camarim ao lado “ele só cantará essa canção sobre o meu cadáver”, Elvis disse “eu adorei, eu quero cantá-la!” E então ele apressou Earl para assinar a documentação para a publicação no momento em que perceberam que Elvis cantaria a canção! E a outra canção que sempre me emociona é I’ll Never Fall in Love Again.

Del – Mas não é uma das canções do 68 Especial, certo?

Eliane – Não, eu acho que esta foi lançada em 1976.

Steve – No Especial nos compusemos duas canções originais para ele. Mac Davis e Billy Strange compuseram Memories. Na verdade, tem uma linha em Memories que Elvis e eu re-escrevemos, ele não gostou, porque dizia algo sobre chicletes e algodão doce, ele odiou aquela frase e então nós a substituímos, eu nem me lembro qual era a frase, mas ele a alterou. E a outra foi If I Can Dream, estas foram as duas canções originais, e o resto foi tirado de seu acervo. Eu tenho, em minha coleção, a historia completa do Especial de 68, o roteiro, as adições, o nome de cada dançarino, de cada figurante, etc., e sem que eu soubesse, Elvis assinou meu roteiro principal.

Del – Eliane e eu estamos adorando conversar com você, mas receamos tomar muito o seu tempo, eu vou fazer mais algumas perguntas... eu estou adorando este momento, e te agradeço muito!

Steve - É um prazer para mim, é fácil conversar com vocês dois!

Del – Como você definiria Elvis Presley?

Steve – Existem algumas pessoas que são impossíveis de definir, que quando entram em uma sala, parecem atrair toda a eletricidade. Quando vc pensa em ícones, em um artista, você pensa em Marilyn Monroe, James Dean, e você pensa em Elvis Presley. Ele era mágico, e quando ele entrou pela primeira vez em meu escritório, ninguém precisou me dizer quem ele era, Elvis era a verdadeira definição da palavra carisma... ele era carismático, eu adorava estar perto dele e nunca encontrei alguém que tenha tido esta oportunidade e não tenha se sentido exatamente do mesmo modo!

Eliane – WOW! Foi mágico ouvir isso!

Steve – Quando eu recebi a primeira ligação, eu não era um fã do Elvis. Ao fazer o Especial, fiquei como vocês, ele me ganhou, me conquistou muitas e muitas vezes, eu me tornei definitivamente um fã por toda a vida!

Del – eu estou muito feliz de ouvir isso.

Steve – E eu me sinto honrado de ter sido eu que... estava escrito, na verdade, Priscilla Presley escreveu na capa do meu livro onde eu conto a história por trás do especial, muitas das histórias que vou enviar a vocês, e ela escreveu... deixe-me pegá-lo aqui... ela escreveu: era o momento de Elvis fazer algo de maneira grandiosa. Steve Binder apareceu no momento certo, e a mágica aconteceu. A sua jornada fez história, e ainda hoje, nos alegramos e ficamos mesmerizados por essa mágica. Priscilla. Então, estava escrito, eu tive sorte o bastante para estar lá no momento certo.

Eliane – Hoje, como você acha que Elvis estaria com toda essa tecnologia? Eu acho que o aproximaria dos fãs e, como Del muito sabiamente disse, Elvis era um showman completo sem toda essa tecnologia. Como você visualizaria Elvis hoje, com todo esse suporte tecnológico?

Steve – Para ser sincero com você, eu penso que ele veio a este mundo, cumpriu uma missão que lhe estava destinada, e partiu no momento exato. Penso que se hoje estivéssemos falando de alguém que ainda estivesse vivo, estamos falando de alguém que estaria com 80 anos, talvez não tivéssemos o mesmo sentimento... nós o vimos vivo em seu auge, em toda sua essência, não o vimos envelhecer, e quem pode saber o que teria acontecido nesses 40 anos? Eu penso que ídolos nos mundo todo são pessoas que deixam impressões duradouras em nós, sejam eles políticos, ou artistas... algumas das pessoas do mundo que passam por aqui sem reconhecimento, como médicos, cientistas, são apenas pessoas comuns, e o público não se concentra neles... Elvis conseguiu tudo que se possa imaginar ou que pudesse querer como um ser humano em minha opinião. Pense nisso, aqui estamos nós, idolatrando Elvis e falando sobre ele e isso ainda acontecerá daqui a cem anos, ele nunca será esquecido!

Del – Steve, por que Elvis ainda é popular hoje? Milhões de adolescentes no mundo todo amam Elvis como um Deus! A maioria dos fãs de Elvis nem mesmo entende inglês, o idioma de suas canções!

Steve – a musica é uma linguagem internacional, é emoção, sentimento, e eu acho que para responder tua pergunta, Del, eu acho que é algo que passa de geração a geração, é muito grande o numero de crianças que ouviram sobre Elvis de seus pais, de seus avós, e quando eles são expostos ao que ele é, isso é novo para eles, não estão ouvindo outras pessoas dizer o quanto ele é especial, estão vivendo essa experiência. Quando eu o encontrei a primeira vez, Elvis me perguntou, porque ele era sincero dessa forma, qual era a diferença de fazer um especial de TV, e eu disse, Elvis, a diferença de fazer um especial de TV, ou gravar um disco ou mesmo fazer um filme, é que, depois que TV exibir para o mundo, você descobrirá já no dia seguinte que não tem que esperar por uma critica, no dia seguinte você já se vão te agradecer ou te bombardear, as pessoas vão lembrar de seus Hound Dogs e Blue Suede Shoes, ou basicamente sua carreira terá acabado. Ou pode ser o oposto: na manhã seguinte, você será o Rei novamente. E isso é real, é como a internet, é instantâneo, chega a milhões de pessoas, senão bilhões. Não existe um dia em que eu entre na internet e não veja algo sobre Elvis Presley. Ele está lá o tempo todo.


Eliane – Sim, graças a Deus! Eu adoro isso!

Del – Steve, eu vou fazer minha ultima pergunta: você gosta de Elvis? (risos)

Steve - (risos) acho que a resposta clichê seria: se eu gosto de Elvis? Eu amo Elvis!

Del – oh, isso é muito bom de ouvir! Obrigado!

Eliane – Steve, eu quero agradecer você em nome de meu grupo e de todos os fãs, por seu tempo e por esta conversa muito agradável, você é uma pessoa muito simpática e muito querida, e foi um prazer estar aqui e conversar com você!

Steve – eu agradeço muito. Eu tenho uma meta na vida, que é a letra de If i Can Dream, eu quero ser humano, eu amo as pessoas e quero ser amado por elas. Sem mais palavras.

Eliane – Isso é fácil!

Del – Steve, antes de desligar, você gostaria de fazer alguma pergunta?

Steve – Acho que eu falo melhor do que escuto, e que vocês fizeram todas as perguntas certas! (risos)

Eliane – é muito gentil de sua parte, obrigada!

Steve – Tenham um ótimo ano!

Del – Eu quero te agradecer por sua atenção, por aceitar nos conceder esta entrevista, e obrigada por ajudar Elvis a ser Elvis!

Eliane – Obrigada por trazê-lo de volta para nós! Nós devemos exibir esta entrevista no final do mês, eu enviarei um convite para que você nos acompanhe, e Del, com sua bela voz, vai traduzir para o português de forma a que nossos amigos entendam o que foi dito.

Steve – isso será muito bom!

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