PARTE 2
Eliane – diga-me, Steve, que tipo de pessoa era realmente o Coronel Parker? Ele era um homem radical? Porque ouvimos muitas coisas sobre ele no Brasil e nenhuma é exatamente agradável. Como alguém que o conheceu, o que você me diria do tipo de pessoa que ele era?
Steve – Posso responder primeiro à pergunta do Del?
Eliane – Certamente!
Steve - sim, Del, o homem que entrou em meu escritório pela primeira vez, se tornou meu amigo. Ele disse “Olá, Steve”, eu disse “Olá, Elvis”, e nós nem conversamos sobre televisão, apenas conversamos sobre musica, e o show business e outros artistas, eu gostei demais dele, durante todo o tempo de produção. Nós nunca discutimos sobre nada, na verdade eu achava que ele era muito cordato.
Del – é muito bom ouvir isso.
Steve – Priscilla me contou que quando Elvis chegou em casa após a nossa reunião, ele disse a ela: “eu tenho pressentimento sobre essa amizade, então não importa o que o Coronel disser, eu vou fazer o que Steve Binder disser!” E ele cumpriu a palavra, ele defendeu o que quer que fizéssemos do primeiro ao último dia. A resposta à sua pergunta, Eliane, com o Coronel Parker tudo levava muito tempo. Parker era um intimidador, em minha opinião.
Eliane – me parece que todos pensam assim.
Steve – No inicio, ele queria se reunir com o diretor do próximo filme de Elvis, ele me enviou presentes, etc., quando começamos a produção e ele entendeu que eu não estava fazendo nada do que ele queria, por exemplo, o que ele vendeu para NBC foi um especial de natal, com cerca de 20 canções natalinas, e Elvis não falaria no show além de dizer boa noite e Feliz Natal. E isso seria tudo, e o Coronel sempre conseguia o que queria quando ia aos estúdios e assim por diante. E ele entendeu que eu não aceitaria isso. Nós tivemos um relação difícil, mas Bob Finkle, nosso produtor executivo, tinha a missão de entreter Parker e mantê-lo fora do caminho, de forma que Elvis e eu pudéssemos fazer nosso trabalho.
Eliane - Bob ficou com o trabalho pesado.
Steve – isso mesmo, ele ficou com o trabalho pesado!
Del – Temos que te agradecer por isso, por dirigir Elvis. Você, não o Coronel Parker. Obrigado pelo 68 Especial, obrigado! Nós amamos o Especial, e amamos ver Elvis tão livre, livre e feliz, porque ele parece feliz!
Steve – Do meu ponto de vista, quando eu assisto ao Especial, eu vejo um homem redescobrindo a si mesmo. Porque eu conheci Elvis, ele não tinha certeza se era assim tão especial ou tão talentoso, Talvez fosse o Coronel com toda sua publicidade e todo o seu bullying e assim por diante, talvez fosse a RCA, mas ele nunca disse “é por minha causa e por causa do meu talento”! Eu acho que o Especial de 68 abriu seus olhos para o quanto ele era talentoso e ele se redescobriu, Ele teve de volta a sua confiança!
Del – Steve, você ainda assiste ao Especial, eventualmente?
Steve – Há apenas algumas semanas tivemos um tributo em um cinema próximo de minha casa, cujas entradas se esgotaram em cerca de dois minutos, e nós exibimos o Especial de 68 e então eu fiz o que estou fazendo com vocês agora, o público me fez perguntas e eu lhes dei as respostas.
Del – mas, em casa, você eventualmente vê o Especial?
Steve – Não a menos que alguém venha me visitar e insista, mas eu provavelmente não o assistiria sozinho.
Eliane – Steve, você disse que você e Elvis se deram bem de imediato. Você mais ou menos já respondeu à minha pergunta sobre a aceitação dele em relação às suas ideias. Mas ele estava esperando algo assim, ou foi uma surpresa para ele ver o que você havia planejado?
Steve – foi uma surpresa para ele. A primeira reunião que tive com Elvis em meus escritórios, fomos apenas nós dois, e ele estava indo para o Hawaii para descansar, e tomar um pouco de sol, e eu disse “vá para o Hawaii”, ele retornaria em duas semanas, e eu disse a ele que reuniria minha equipe, e quando ele voltasse do Hawaii nós diríamos a ele o que havíamos planejado para o show, e se você gostar, vamos em frente. Se você não gostar, ainda seremos amigos e eu fico feliz que tenhamos nos conhecido. E ele voltou do Hawaii, e Chris Beard e Allan Bly tinham feito o esboço do programa, que foi exatamente o que ele viu, e ele adorou. Na verdade ele aceitou tudo tão bem que eu me senti nervoso com o fato de que ele tenha aceitado tão rapidamente. E eu disse “pense a respeito” e ele respondeu “não, eu quero fazer isso, eu adorei!” E essa foi a última vez que ouvimos sobre o especial de natal, e foi então que o Coronel Parker se virou contra mim, e no final do especial, eu já não tinha mais permissão para ver ou falar com Elvis com relação a seu mundo ou sua equipe, eu era o que se pode chamar de “persona non grata”.
Del – Na semana passada eu li o livro O Retorno do Rei, de Gillian G. Gaard, e no livro ele menciona que você assistiu a estreia de Elvis em sua primeira temporada em Vegas em 1969. É verdade?
Steve – Sim, eu fui por minha conta, eu não fui convidado. Então eu fui vê-lo por curiosidade. E na primeira vez que o vi depois do Especial, isso foi em 1969, eu achei que ele estava fantástico! Eu achei que ele foi ainda mais do que no Especial de 68, ele amava se apresentar! Antes de fazermos o especial, ele nunca tinha se apresentado com uma orquestra, ele me fez prometer que se ele não gostasse do som de uma grande orquestra, eu mandaria todo mundo para casa e ficaríamos apenas com a sessão rítmica. Quando o vi em Vegas, ele tinha mais músicos no palco do que nós tivemos no Especial. E ele estava engraçado, ele amava o seu público! No final do show eu tentei visita-lo no seu camarim, mas eu não fui permitido. Eles recusaram dizendo que Elvis estava muito ocupado, o que eu sabia não ser por causa de Elvis, eu sabia que era o Coronel Parker e o resto da equipe. Então, eu fui vê-lo novamente um ano depois, e ele estava terrível, ele se apresentava basicamente apenas para a orquestra, ignorando o resto, ele perdera seu entusiasmo, por cantar em Las Vegas.
Del – um ano depois? Em 1970?
Steve – Sim foi por volta... enfim, um ano depois de tê-lo visto originalmente. Eu voltei um ano depois para vê-lo novamente. Para mim, eu soube, naquele momento que estava acabado. Ele esgotara sua carreira, e nunca faria as coisas que ele tinha dito que queria fazer, que era uma tournée o redor do mundo, se apresentar... ele se tornara um cantor de hotéis em Las Vegas pelo resto de sua carreira. Isso foi realmente trágico. Ele fez vários concertos pelos EUA, mas no final, mal conseguia lembrar a letra das musicas.
Eliane – Você acha que Parker pode ser culpado por isso?
Steve – Apenas uma parte disso, porque eu acho que somos todos individualmente responsáveis pelo que fazemos de nossas vidas e nossas decisões. Então, Parker tinha uma mente muito poderosa, e eu acho que ele mimou tanto Elvis, que no final Elvis tinha um certo medo dele, como se ele pudesse revelar muitos segredos, mas eu não acho que Elvis seria Elvis sem o Coronel Parker, então eu acho que no começo foi a combinação certa. Quando Elvis morreu, quando Parker soube da sua morte, ao invés de pegar um avião para Memphis, ele foi para Nova York se encontrar com os executivos da RCA e dizer a eles que começassem a prensar muito mais discos, porque iriam vender muito mais produtos, e depois ele foi para Memphis. Para mim, Elvis era apenas um negócio para o Coronel. Ele não considerava Elvis como um ser humano, cheio de compaixão, etc. Eu disse em outra entrevista, que para mim Elvis era como Hamlet, de Shakespeare, ele estava trancado em seu mundo, onde ele tinha pessoas ao seu redor que eram pagas para rir de suas piadas, mimá-lo, e eu acho que todo mundo precisa de um Grilo falante sobre seus ombros falando-lhes a verdade. Mas ele não tinha ninguém para lhe dizer o que era real.
..... continua.....
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