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terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

ENTREVISTA EXCLUSIVA COM STEVE BINDER - PRODUTOR DO COMEBACK SPECIAL 68 (PART 3/ 4 )

PARTE 3

Del – Steve, você disse que gostou de Elvis em 1969. Elvis abandonou rapidamente aquele fantástico estilo de 1968; seu estilo, sua performance, tudo mudou, ele parecia totalmente diferente em 1969, até seu famoso cabelo mudou, Você considera isso uma evolução, ou Elvis poderia ter mantido por mais tempo aquele visual novo e estonteante do Especial de 1968?

Steve – eu acho que se Elvis se libertasse, se fosse permitido a ele fazer o que queria fazer, eu acho que ele teria sido forte o suficiente para fazer isso. Eu sei porque ele me disse pessoalmente que nunca mais queria cantar uma canção que ele não gostasse, não queria mais fazer filmes cujo roteiro não o agradasse, e eu disse a ele, eu não tenho como saber o que o futuro reserva, mas eu espero que você seja forte o suficiente para fazer isso. Mas da maneira como aconteceu, eu não penso que ele tenha sido.

Del – Mas em 1969 e 1970, você gostou do que ele estava fazendo?

Steve – Não. Na primeira vez que o vi, que para mim foi logo depois do especial, isso foi quando ele foi para Las Vegas, e ele montou a TCB Band, e uma orquestra, e ele adorava se apresentar. Eu digo a vocês, e eu acho que nunca disse isso a ninguém antes, que quando eu terminar de editar e devolvi o Especial à NBC, para que eles pudessem exibi-lo, um dos executivos da NBC disse: eu acho que não podemos exibir isso! – e eu perguntei porque, e ele respondeu, porque se pode ver que o cabelo dele está todo bagunçado, e ele está suando, você pode ver o suor em sua camisa, etc.,

Eliane – ele realmente disse isso?

Steve – Realmente, ele disse tudo isso, e eu nem sabia o que dizer, eu apenas ri.

Del – Steve, as fãs adoram ver Elvis suando!

Steve – aquele era o ser humano, era o Elvis real que nos permitiram ver! Por anos, ninguém viu Elvis como Elvis, até o Especial de 68.

Del – Deixe-me perguntar algo que nunca entendi: aquela voz gutural, rouca, profunda que Elvis apresentou no especial de 68. Ele nunca cantou daquela forma antes ou depois do especial. O que você achou daquela voz gutural que ele usou no especial de 68?

Steve – Eu acho que só posso dizer que não tenho respostas com o que aconteceu em seu futuro, meu tempo com Elvis foi apenas quando fiz o especial, Mas, todos os dias eu ia para o trabalho, e não conseguia dormir a noite, eu estava tão empolgado, eu queria levantar e ir para o estúdio, e vê-lo e trabalhar com ele novamente, todos os dias, e eu acho que ele se sentia dessa forma também, eu acho que ele estava como um pássaro sendo libertado da gaiola! Ele estava apaixonado, ele nunca este mais bonito, ele nunca se divertiu tanto, era o Elvis real! E talvez ele nunca tenha recapturado esse sentimento, eu não sei, eu não tenho resposta para isso!

Eliane – Isto me leva a uma pergunta feita por um de nossos amigos, seu nome é Sandro Roberto e ele é um de meus amigos do fã-clube, Ele diz que se fala muito sobre a maneira como Elvis estava se apresentando, se comportando, mas reza a lenda que a NBC esqueceu de inscrever o especial para o prêmio Emmy daquele ano. Isso é real? Você acha que se eles o fizessem, o show poderia ter ganho o prêmio?

Steve – Eu sou a ultima pessoa a responder perguntas sobre prêmios, porque eu acho que tudo isso é muito subjetivo, mas eu tenho uma opinião, e é igual e tão boa quanto a opinião de todos os outros. Mas eu era pessoalmente tão jovem e ingênuo quando eu fiz o especial. Na América, para ganhar um premio, você mesmo deve se inscrever, ou a rede de TV tem que inscrever seu nome. E quando fizemos o especial de Elvis, nós não inscrevemos nossos nomes para o Emmy! E é como o Grammy... Elvis ganhou apenas três Grammy em sua vida, por musicas gospel, ele nunca ganhou um grammy por Rock’n’nroll, é embaraçoso, é ridículo. Então, quando o assunto são prêmios, eu não presto muita atenção a eles.

Del – Steve, nós solicitamos perguntas a alguns fãs brasileiros, e vamos te perguntar o que eles nos enviaram, ok?

Steve – Claro.

Del – Laerte Machado, um fã de Elvis muito popular e membro do fã-clube Gang Elvis, de São Paulo, perguntou: Você acha que Elvis seria bem sucedido em uma turnê mundial depois do Aloha From Hawaii?

Steve – A resposta é sim, eu acho que mesmo depois, quando ele não estava bem, e haviam todos aqueles escândalos com drogas e tudo o mais, eu acho que havia fãs suficientes no mundo para recebê-lo, eu sei porque quando ele fez seu ultimo especial para rede CBS nos EUA, todo mundo que eu respeitava, incluindo eu mesmo, não queria mostra-lo para o público, porque ele esquecia as letras, ele não estava em boa forma, tanto física quanto mental, isso foi depois do especial de 68, depois do Aloha, quando o coronel estava apenas tentando fazer mais dinheiro, e eles fizeram um especial para a CBS...

Eliane – Sim, é muito famoso aqui no Brasil, nós o chamamos de Elvis in Concert.

Steve - Mas ninguém que eu conhecia no mundo da música queria mostrar Elvis daquela maneira. Ele estava acima do peso, suando muito, mas ele ainda tinha a voz de Elvis... e quando eu encontrei com alguns fãs, minha primeira impressão era de que eles era fanáticos, e na verdade eles são, mas eu acabei gostando dos fãs de Elvis ao redor do mundo, eu acho que são ótimas pessoas, eu acho que agora não é só Elvis, é um clube social, eles se vincularam entre eles, e são realmente pessoas agradáveis, inteligente, que tem algo em comum, e o que os une é o seu amor por Elvis. E eu acho que isso é bom, eu tenho recebido dos fãs, aonde quer que eu vá, nada além de calorosas boas vindas , educação, etc., e eu digo a muitas pessoas que condenam esse fanatismo no mundo afora mas eu acho que é válido, eu respeito isso, e eu acho que existem dois Elvis, o Rei do Rock’n’roll, mas também tem o ícone religioso, em muitos casos ele é quase um Jesus, e ele tem muitos seguidores, que ignorem a publicidade negativa, e as coisas que falam, e daí em diante.

Eliane - Pessoalmente, eu não gosto da associação de Elvis com esse lado de religião. Eu sou uma das pessoas que não dá atenção à comentários negativos sobre ele.

Steve – Pessoalmente eu sou agnóstico. (risos) Mas por outro lado existem milhares de fãs que reconhecem seu lado espiritual.

Del – Eu sou agnóstico também, somos dois. Vamos a mais perguntas dos fãs. Luah de Carvalho, do Rio, pergunta – é uma questão engraçada. Elvis era cheiroso, Mr. Binder?

Steve – Eu acho que sim, porque não me lembro de ele não ser cheiroso mesmo quando estava todo suado. (risos)

Eliane – eu só posso dizer que isso aumenta consideravelmente minha vontade de ter estado lá. Muitos de nós dizem que queriam ter visto Elvis em pessoa pelo menos ou uma vez ou ouvido Elvis cantar pessoalmente pelo menos por alguns segundos. A TCB Band veio para o Brasil, em 2012 e 2013, e os shows foram como se Elvis estivesse aqui, as pessoas cantavam junto, foi lindo de ver, e nos deu uma pequena amostra da sensação de vê-lo pessoalmente.

Steve – Mas eu te digo, eu vi alguns covers, e te digo, alguns eram tão bons que me perguntei porque eles perdem suas carreiras tentando ser Elvis quando eles deveriam ser eles mesmos.

Eliane - isso é o que sempre me pergunto! Del...

Del – Steve, Luah, do Rio, pergunta mais: durante a produção do especial de 68, Elvis costumava dar sugestões? Vamos fazer isso, vamos fazer aquilo, ou ele apenas seguia as suas ordens?

Steve – Eu acho que respondi essa antes, ele não dava sugestões, de fato, quando chegamos a If I Can Dream, que Earl Brown escreveu para ele. Eu não penso que ele tenha cantado essa musica novamente depois do especial, ele nunca a apresentou quando estava na estrada, e todos com quem eu conversei disseram que ele queria que fosse algo especial, e eu não penso que o Coronel não me deixaria fazer nenhum tipo de discurso sobre quem Elvis era, como se sentia, sua humanidade, e então eu disse a Earl e Billy Goldberg que escrevessem uma canção que resumisse tudo isso. Então, aquelas não são palavras inventadas, para mim, significam como Elvis realmente se sentia enquanto ser humano, ele era cheio de compaixão, bem humorado, que acreditava nos seus irmãos humanos, e ele queria que as pessoas se amassem umas as outras, que se reconhecessem umas às outras, e eu acho que ele queria mudas as pessoas que tem visões muito negativas sobre seus vizinhos, etc. Ele queria mudar o preconceito. Tem uma expressão nos Estados Unidos para quando uma pessoa é muito preconceituosa, que ela é um Redneck do Sul, e para mim, Elvis era tudo menos isso, ele era atencioso e carinhoso com todas as raças, religiões... na verdade, se você notar, na canção gospel do Especial, the Blossoms, três mulheres negras que era muito famosas no mundo a música nos EUA foram suas back vocals, especialmente nesse seguimento tínhamos um coreógrafo porto-riquenho, era uma sede das Nações Unidas de pessoas naquele show, todas as cores, raças, religiões diferente, etc.. No ano anterior eu tinha feito um especial com Harry Belafonte e Petula Clark, e eles se tocaram, Petula, na verdade, se inclinou durante uma canção, muito emocionada, e tocou no antebraço de Belafonte, e o patrocinador do show insistiu que isso fosse cortado, e o fato apareceu na News Magazine, na Times, internacionalmente, e ficou conhecido como “o toque”. E eu fiquei abismado, porque houve tantas correspondências que chegaram às minhas mãos, à rede de Tv, aos jornais, as pessoas falavam sobre isso, mas quando fizemos o especial de Elvis, ninguém disse nada. Eles simplesmente aceitaram, e eu acho que isso que foi a grande contribuição de Elvis, ninguém criticou o fato dele misturar raças e pessoas em seu próprio programa, e mesmo nos bastidores, havia tantas pessoas diferentes em minha equipe, que eram de estilos diferentes de vida, países diferentes, religiões diferentes, raças diferentes, e não houve um único comentário negativo, o que eu achei ótimo.

Del – Steve, Elvis sempre tratou bem todas essas pessoas “diferentes”?

Steve – Em minha frente, sim, e eu tenho que dizer, novamente, que minha janela de tempo com Elvis foi apenas quando eu produzi o especial. Eu nunca o vi antes de começar e nunca mais falei com ele depois que terminamos. Mas durante esse tempo, enquanto estávamos ensaiando, Bob Kennedy foi assassinado, e nós passamos toda uma noite falando sobre os assassinatos Kennedy, sobre o assassinato de Martin Luther King, e eu vi uma pessoa com muito calor humano em Elvis, que sempre se preocupava com o que nosso país estava fazendo e aquilo em que acreditávamos, e em ambos os casos a hipocrisia ao redor do mundo. Dos EUA, certamente na última década mais ou menos, temos muitas coisas pelas quais responder, eu não quero transformar isso em discurso político, mas é como eu me sinto.

Del – é um bom sentimento, este é o Elvis que nós podemos sentir através dos anos, porque somos fãs, e lemos muitos livros, vimos muitos vídeos, e temos essa impressão, de que ele era uma pessoa humilde, mesmo se ele era um megastar, ele era uma pessoa humilde e sensível.

Steve – eu concordo com você, eu acho que ele era tudo isso.

Eliane – É muito especial para nós ouvirmos isso.

Steve - Eu quase fui ao Brasil muitos anos atrás, com Sergio Mendes e sua banda, infelizmente eu estava trabalhando em outro projeto e não pude ir, mas sempre lamentei não ter a chance de visitar seu país!
 
Del - Steve, Carla Presley, de São Paulo, pergunta: você se lembra de alguma coisa que aconteceu durante a produção do Especial que remeta ao lendário senso de humor de Elvis? Todo mundo diz que ele tinha um enorme senso de humor.

Eliane – e um pouco sarcástico, também!

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