O show de Elvis Presley chega a São Paulo pela segunda vez trazendo a banda original do cantor tocando ao vivo.
Os músicos contracenam com o Rei do Rock, que aparece em vídeo em
grandes telões instalados no palco. As performances são retiradas de
vídeos dos principais shows de Elvis e a impressão que se tem é a de
estar vendo o astro ali na sua frente.
Quem já assistiu sabe que esta é a única maneira de ter uma noção de como era uma apresentação de Presley nos anos 70.
Joe Guercio, que conversou com o
R7, é o maestro da
orquestra que tocou com Elvis durante sete anos nos anos 1970. Guercio e
seus músicos ajudavam a dar um ar grandioso às apresentações do Rei do
Rock e isso se repete nos dois shows que acontecem em São Paulo nesta
sexta (25) e sábado (26).
O músico revelou algumas histórias divertidas e também relembrou como era estar com Presley no palco.
R7 - Em primeiro lugar, gostaria de saber como você conheceu Elvis Presley
Joe Guercio -
Eu o conheci no camarim de Sammy Davis Junior, após um show de Sammy.
Elvis foi lá visitá-lo. Ele havia acabado de sair do exército (início
dos anos 60) e nós íamos sair para jantar e foi só isso o que aconteceu.
Eu não era um grande fã do Elvis, mas minha mulher era.
E como o senhor começou a tocar com Elvis?
Antes do primeiro ensaio, tive uma reunião com o Coronel Parker
(lendário empresário de Elvis) e eles sabiam tudo o que eu já tinha
feito na carreira. Íam filmar o show
That’s the Way It Is (
Elvis é Assim,
no Brasil) e me pediram para participar. Eu estava tocando no Hotel
Hilton naquela época e o show seria gravado ali, então acabei me
envolvendo automaticamente. Tivemos o primeiro ensaio e eu não fui
apresentado a Elvis. Quando terminamos, Joe Esposito (chefe da equipe de
Elvis) veio até mim e perguntou se eu gostaria de conhecê-lo. Eu disse
‘seria bom, já que vamos trabalhar juntos’. Então, ele veio até mim
atrás do palco e disse ‘olá, maestro’. Ele me chamou de maestro
imediatamente. Quando apertei a mão de Elvis, senti um carisma que não
consigo explicar. É incrível. E é o mesmo carisma que se vê nos vídeos
em nossos shows atuais.
Você e sua orquestra tocaram com Elvis durante sete anos e em centenas de shows. O senhor teria algum favorito?
Acho que tenho que citar quatro shows. No Madison Square Garden, em
Nova York; Aloha From Hawaii; em Georgia e a noite de abertura em São
Paulo foi incrível. Foi a primeira vez que tocamos para um público cuja
língua não era o inglês e as pessoas sabiam todas as letras. Isso foi
demais, adorei.
E como foi tocar no Aloha From Hawaii (show televisionado via
satélite para mais de 1 bilhão de pessoas), Elvis e os músicos estavam
nervosos?
Eu e os músicos conversamos um dia antes do show (que aconteceu em
1973) e vimos que a coisa ia realmente ser feita. Nunca um show havia
sido televisionado ao vivo via satélite e isso me deixou muito
empolgado. Fui à frente da orquestra já no dia do concerto e disse
‘pessoal, quando começarmos, estaremos ao vivo para o mundo todo e
ninguém nunca fez isso antes’.
E como estava Elvis antes deste show?
Elvis era único. Alguns dias antes do primeiro ensaio no Havaí,
estávamos no hotel conversando sobre o show, como seria, essas coisas. E
Elvis estava com aquela capa com a águia americana, que usaria no show.
Ele havia acabado de recebê-la e era muito pesada, com todas aquelas
pedras. Ele falou: ‘Veja a capa. Vou entrar com ela’. Ele era único. Um
artista como nenhum outro. Todos gostavam dele: a mãe, o pai, as
crianças. Não há igual.
Elvis dava muitos palpites sobre como queria seus shows? Falava com vocês sobre os arranjos e todas essas coisas?
Ele cuidava da maior parte dos arranjos. Conversávamos sobre os
momentos do show, sobre a iluminação. Ele adorava cantar as músicas dos
Beatles. Nunca consegui compreender o tipo de cantor que ele era. Quando
o vi cantando, pela primeira vez, “Bridge Over Troubled Warter” fiquei
impressionado. Não é uma canção fácil de cantar, você tem que ter uma
voz boa o tempo todo e ele conseguia isso.
Como era viver com Elvis na estrada para as turnês?
Era muito divertido. Não poderia ser diferente. A gente se divertia muito.
O que você pode dizer sobre o último show de Elvis, em 1977? Vocês achavam que havia algo errado com ele?
Não acho que o último show tenha sido ruim. As coisas ficaram mais
devagar, mas nunca foi ruim. E Elvis era um acontecimento e mesmo se só
andasse no palco as pessoas já voltavam felizes para casa. Acredite. Era
incrível. Para Elvis, o que importava eram os fãs, o restante todo
vinha depois.
E é verdade essa história de que foi sua mulher quem deu a ideia de tocar o tema de 2001: Uma Odisséia no Espaço antes da entrada de Elvis no palco?
Sim, é verdade. Quando o filme estreou, eu e minha mulher fomos
assistir e essa música tocou. E ela disse: ‘Meu Deus, você não sente
como se Elvis fosse entrar?’. E eu disse ‘grande ideia’. Eu nem
conseguia esperar pelo dia seguinte, porque íamos fazer um novo show.
Falei com Elvis e ele conhecia a música. Toquei, ele adorou e disse:
‘Vamos tocar o disco?’. Eu disse ‘não, vamos fazer um arranjo e tocar ao
vivo’. Na noite seguinte abrimos com o tema de 2001. Funcionou e todo
mundo adorou. Foi assim que entrou no show e ficou para sempre daí por
diante.
Gostaria que desse uma mensagem para os fãs brasileiros de Elvis
Em primeiro lugar quero dizer que adoro os fãs brasileiros. As pessoas
são receptivas, amam música e quero dizer umas palavras em português:
‘Muito obrigado’ (cheio de sotaque).
Fonte: Odair Braz Jr., do R7